A cultura portuguesa — e o cinema mundial — acordaram mais pobres. Eduardo Serra, o mais internacional de todos os diretores de fotografia portugueses, partiu aos 81 anos, deixando para trás uma obra que atravessou fronteiras, gerações e alguns dos filmes mais marcantes da história recente do cinema.

A notícia da sua morte começou a circular na noite desta quinta-feira, dia 21, espalhando-se rapidamente pela imprensa nacional e internacional. Segundo a família, Eduardo Serra terá falecido no início da semana, no dia 19, num silêncio discreto que sempre caracterizou a forma como viveu longe dos holofotes, apesar do reconhecimento global que conquistou.

Lisboeta de nascimento, Eduardo Serra construiu a sua carreira maioritariamente em França, onde se afirmou como uma referência absoluta na direção de fotografia. O seu olhar único, a forma como moldava a luz e transformava imagens em emoção, fizeram dele um nome respeitado nos bastidores de Hollywood e do cinema europeu.
Ao longo de décadas, assinou a fotografia de produções icónicas como Harry Potter, Belle du Seigneur e A Promessa, colaborando com realizadores de renome e deixando uma marca visual inconfundível. O reconhecimento máximo chegou com duas nomeações para os Óscares, um feito raríssimo para um profissional português atrás das câmaras.

Eduardo Serra foi nomeado pela Academia de Hollywood pelo seu trabalho em As Asas do Amor e em Rapariga com Brinco de Pérola. Este último valeu-lhe ainda a conquista de um BAFTA, distinção atribuída pela Academia Britânica de Cinema, confirmando o estatuto de mestre absoluto da imagem cinematográfica.
Colegas descrevem-no como um homem de poucas palavras e enorme sensibilidade artística, alguém que “falava através da luz”. Para muitos, Eduardo Serra não iluminava apenas cenas — iluminava histórias, dando-lhes profundidade, silêncio e poesia.
A sua partida deixa um vazio difícil de preencher. O cinema perde um dos seus grandes arquitetos visuais, Portugal perde um dos seus maiores embaixadores culturais e o mundo despede-se de um criador que preferiu sempre deixar a sua assinatura nos filmes… e não nos títulos.